terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O JORNAL PERSPECTIVA


Por ideia do Paulo Lemos que era o Presidente da Associação de Estudantes do Liceu e dinamizado pelo António Eduardo Marques (Dadinho) , criou-se em 1980 o jornal da AE com o nome de Perspectiva.

O jornal era impresso em stencil o que dava um trabalhão dos diabos e limitava bastante a tiragem.

O primeiro número, impresso em papel verde (?!), não me recordo porque motivo, foi uma edição de parede, sendo afixado na parede situada à esquerda da porta da associação de estudantes, no átrio do primeiro andar do liceu.

Foi nesse número que editei a minha primeira crónica e julgo que todos os demais tiveram aí as suas primeiras experiências literárias e artísticas publicadas.

A minha primeira crónica falava da necessidade de os estudantes do liceu, logo após as eleições para a A.E. se unirem em torno do que lhes era comum e fazerem do Liceu um lugar melhor e com actividades extra-curriculares interessantes e apelativas.

Já não possuo qualquer cópia desse texto o que é pena para ver que o meu discurso não mudou muito em trinta anos.

Julgo que ninguém terá um exemplar dessa primeira edição e tão pouco me recordo se chegou a ser distribuída. Provavelmente não, pois existindo uma edição pública de parede não faria sentido vender exemplares.

Já da segunda edição, a primeira efectivamente editada com o intuito de ser vendida aos alunos, possuo um exemplar que desconheço se é único entre os 400 que foram impressos.

É esse exemplar que digitalizei para que agora possa ser compartilhado por todos. Estejam à vontade para fazer cópias.

O jornal com o nr. 2 e referente a Abril/Maio de 1981 tinha como Director o Paulo Lemos e como redactor principal o António Eduardo e nele colaboraram o João Paulo Feliciano, hoje um dos mais prestigiados, talentosos e multifacetados homem da cultura nacional (ia para chamar-lhe artista mas há tantos ‘’artistas’’ por aí que poderia ser considerado depreciativo) e cujo currículo está hoje bem exposto no Google, a Leonor Nazaré, Nônô para os amigos, hoje Curadora da Fundação Calouste Gulbenkian com um papel muito importante na organização de exposições. O João Paulo, a Teresa Requeijo, o Rafael Chust que se deve lembrar bem daquela azáfama com a produção do jornal, o Pedro Penteado, a Ana Sá Lopes, a nossa ilustre jornalista, comentadora, colunista e escritora e que recentemente assumiu as funções de directora-adjunta do Jornal I depois de ter passado pelo Público e pelo Diário de Noticias. Colaboraram ainda o Sérgio Silva, o Zé Luis Silva, o Abel Campos, o João Paulo Neves (que também anda por aqui no facebook) e o Jorge Pereira para além de eu próprio. Alguns não vejo quase desde que terminei o liceu.

O Editorial, na página 2, assinado pelo Exmo. Senhor Presidente da Direcção da Associação de Estudantes, Paulo Lemos, expunha as dificuldades para criar uma sala de convívio no Liceu, sala esta que nunca chegou a existir durante todo o período de actividade do Liceu do Parque. Pensando bem, entre os três átrios (um por andar), as traseiras do Liceu e a parada e todo o Parque D. Carlos I (que privilegiados éramos!) zonas para conviver não nos faltavam!

Com o título ‘’Insólito’’, um artigo do José Luis Silva dissertava ao longo de duas páginas sobre vários enigmas da história, prometendo deixar para um próximo número a sua própria tese para a explicação dos vários mistérios.

Nas páginas 4 e 5, o António Eduardo desenvolvia um artigo sobre o Space Shuttle que estava pronto a partir na sua missão, questionando a validade de um projecto que só servia para entrar em órbita da Terra.

Compartilhando a página 5 e estendendo-se por toda a página 6, a minha coluna Triangulum apresentava a minha segunda crónica intitulada ‘’O Dinossauro’’ onde dissertava sobre a geopolítica mundial. Uma obra-prima! (Mas relembrava a Gabriela Schaff! Lembram-se?)

As páginas 7 e 8 descrevia uma visita de estudo a Lisboa ao Museu de Arte Antiga, á Fundação Calouste Gulbenkian e finalmente ao Teatro ‘’A Barraca’’ para assistir a uma peça de Gil Vicente com Maria do Céu Guerra e Orlando Costa. A autoria do artigo era compartilhada pela Paula Perista e pela Ana Sá Lopes (provavelmente o primeiro de muitos que admiramos nas páginas dos nossos principais matutinos).

Ainda na página 8, Pedro Penteado apresentava uma versão humorística e muito ficcionada da vida de Camões.

Nas páginas 10 e 11 Abel Campos fazia a crónica da excursão de finalistas a Benidorm de 1981 (uns anjinhos comparados com a nossa a Torremolinos em 1980!) e era acompanhado ainda na página 11 por uma outra crónica intitulada ‘’As Indignações do Olimpo’’ assinada por M.T. (Teresa Requeijo?) e questionando o debate sobre a educação decorrido na Assembleia da República. Nesta última página anunciava-se ainda a organização de um concurso de desenho, um concurso de fotografia e uma feira do disco usado.

A página 12 abria com um problema matemático apresentado por Sérgio Silva (não, não era o Pica que ainda era muito novinho para estas coisas!) e continuava pela página 13 e 14 com um artigo do António Eduardo intitulado ‘’Com a faca…mas sem o queijo’’ sobre política mundial e a recente eleição do presidente Ronald Reagan.

O António Eduardo, com prerrogativa de redactor principal, ocupava a página 15 com um texto seu com o título sugestivo ‘’Bum’’ numa coluna com o nome de Criar (te). João Paulo Neves escrevia um pequeno poema na borda da página. O título era ‘’O Aborto do Planeta Terra’’ (sic)

Na página 16 João Paulo Feliciano ensinava o que era um soneto e apresentava dois da sua autoria. A página concluía-se com um novo texto de Abel Campos.

Leonor Nazaré, a Nônô, apresentava um poema sem título na página 17. Tem agora aqui uma excelente oportunidade para desenvolver a sua crítica literária a uma jovem poetisa de 16 anos.

São da autoria do João Paulo Feliciano as ilustrações do jornal e particularmente interessantes as que acompanhavam as novidades livreiras na página 18.

A página 19 continha a secção Lazer com apresentação das novidades discográficas e dos filmes em cartaz no Estúdio Um. Dos discos editados retemos os Tantra e os Taxi entre outros. No cinema apresentava-se entre outros, ‘’O Meu Tio da América’’ de Alain Resnais, ‘’Glória’’ de John Cassavetes e ‘’Lagoa Azul’’ com Brooke Shields.

Quase a terminar a página 20 apresentava por Amador Fernandes, o Núcleo de Investigação e Divulgação Científica do Liceu.

Finalmente na última página, inexplicavelmente uma página impar, sobrando uma página em branco (faltou um artigo Dadinho?), a secção Passatempos e Curiosidades da responsabilidade do nosso brasuca Rafael Chust.

Não me recordo se o Perspectiva conheceu uma terceira edição. Não certamente nesse ano lectivo. Os outros que compartilham este espaço connosco o dirão.

A elaboração e produção do jornal deu muito trabalho e lembro-me das dificuldades que o Paulo e o Dadinho tiveram em passa-lo ao stencil. Mas voltando agora atrás no tempo valeu a pena esse esforço pelo momentos de convívio que nos possibilitaram e que reforçaram a nossa amizade.

Este exemplar que guardo com carinho e que agora disponibilizo a todos é um testemunho dessa amizade que guardamos.



Gabriela Schaff - Eu Só Quero

Nota: Entretanto o Luis Lamy esclareceu-me que houve, pelo menos, outros dois jornais editados por alunos do Liceu do Parque através da Associação, mais ou menos na época da ocupação do Liceu pelos alunos em 1975: "O Caveira" e o "Retrete Do Opressor".

Comentário do António Eduardo Marques: Eh pá... O Perspectiva! Meu Deus, há quanto tempo...

Algumas pérolas:

1. O papel verde não foi escolhido. Foi alguém (que já não me lembro quem) que nos ofereceu o papel - era o que havia e a cavalo dado... O papel era a maior despesa do jornal e a DAE andava sempre à procura de quem o poderia oferecer.

2. O nome Perspectiva foi uma palavra escolhida ao acaso do Dicionário. Eu, o Lemos e o JPF arranjámos um dicionário, abrimos uma página ao calhas e foi a primeira palavra gira que encontrámos. Na verdade, acho que foi à segunda tentativa, pois na primeira página aberta não sauiu nada de jeito...

3. O Jornal de parede era uma entidade à parte. Uma forma de manter o pessoal informado com periodicidade semanal ou quinzenal e que funcionava entre as edições (mensais, ou quando calhava) do Perspectiva.

4. Houve uma edição (várias na verdade) feita sobretudo por mim e pelo João Paulo Feliciano, chamada Peerspectiva Musical, que era como o nome indica, sobre música. Na altura (só na altura?) eramos todos fanáticos por música e o PM foi muito influenciado por um jornal que saiu na altura e que se chamava RockWeek.

5. Sairam pelo menos duas edições do Perspectiva Musical, uma delas incluindo uma entrevista feita na Pink Panther, em S.M. do Porto, por mim e pelo JPF, aos Street Kids, que foram lá actuar.

6. Sairam várias edições do Perpectiva, pelo menos umas 4 ou 5. As últimas tinham um logótipo diferente, mais elegante. As últimas edições já eram bastante mais sofisticadas, pois entretanto havia uma coisa chamada "stencil electrónico" que, ao contrário do convencional, permitia a impressão de fotografias.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu acho que tenho o nº 1. Lembro-me de me teres pedido um artigo sobre música e acho que saiu nesse jornal. Se encontrar envio-to.


Mário